Sábado eu passei o meu dia em Floripa. Foi a minha primeira vez na cidade (bem diferente do que eu esperava, mas linda do mesmo jeito!), então é claro que eu tinha que visitar o mercadão municipal e depois acabei em um shopping e em uma livraria. Não tive muito tempo para escolher cuidadosamente um livro, mas acabei levando um que achei muito interessante e bem diferente dos que eu costumo achar por aqui. Sem falar que a proposta de juntar culinária, história e cultura do Nihon (o nome original do Japão) fez minha curiosidade ter tremeliques.
O livro fala sobre os izakaya (居酒屋), estabelecimentos japoneses surgidos durante o período Edo (período em que o Nihon foi governado pelos shoguns da família Tokugawa, de 1603 a 1868) e que tinham a função de comercializar o sake. Os fregueses podiam fazer a degustação da bebida na loja, que com o tempo passou a oferecer também alguns acompanhamentos. Hoje os izakaya são como bares em que se pode beber o tradicional sake, ou uma cerveja super gelada (que, por minha experiência com a convivência com os Nihonjin ou dekasseguis, pude perceber que eles adoram!), acompanhados de pratos também tradicionais que se harmonizam com as bebidas e estão repletos de culturas regionais - bom, assim como para os judeus, a comida os japoneses é um ritual, uma arte.
A ordem dos assuntos apresentados segue mais ou menos assim: primeiro, uma breve história dos izakayas e uma contextualização. Há um grande enfoque nos estabelecimentos aqui do Brasil, ou melhor, de São Paulo e algumas estatísticas dos izakayas de acordo com o Ministério de Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Nihon. Depois, há uma boa parte sobre o sake, os principais tipos e a diferença entre eles. O livro segue com a apresentação de 8 estabelecimento, com suas breves histórias, seus donos e alguns pratos de destaque.
Minha opinião de forma geral é: eu esperava mais. Talvez um pouco de preconceito meu, mas já fiquei um pouco com o pé atrás quando li que o livro não foi escrito por um especialista da área depois de anos de estudo - foi algo encomendado pela editora para um autor que, apesar de já ter ganho prêmio por livro publicado na área de gastronomia japonesa, não tinha muito conhecimento sobre o assunto até a editora encomendar o livro.
A leitura é fácil, a linguagem é gostosa, tanto que li o livro rapidinho (até mesmo por conta das letras grandes, textos separados em tópicos e lindas imagens). Mas alguns capítulos se parecem muito com trabalhos acadêmicos, e até pude ouvir a voz do meu orientador da minha época de mestrado dizendo: "tá, isso é um capítulo de dissertação. Agora transforme em um capítulo de livro, pois é diferente." E eu ainda não entendi o porquê de ter uma parte sobre uma degustação, com uma breve biografia de cada participante, e não ter sido trabalhada melhor. E as biografias, totalmente dispensáveis, até mesmo porque os participantes não expressaram nenhuma opinião que formasse argumentos no texto.
Gostei das receitas seguirem as origens - é um tanto decepcionante quando você compra um livro para ver as receitas originais e acaba se deparando com situações como "se não tiver molho shoyu, use molho inglês, que é a mesma coisa" ou quando você se depara com ovo de codorna no yakisoba (os Campo grandenses vão entender). Pode até ficar muito bom, mas se eu estou procurando pela receita original, que tente-se pelo menos chegar perto. Pontos a favor do livro: prima até pelo shoyu de fermentação natural, e não os de fermentação química que utilizamos por aqui. Gostei também do glossário no final e as lendas apresentadas.
A parte de fotografia e design do livro é um festival a parte: lindas ilustrações (às vezes parecia mais que eu estava lendo um livro infantil, de tão fofas e lindinhas), lindas fotografias, papel de qualidade, grosso e fosco (facilita a leitura, principalmente para quem, como eu, anda com o livro na bolsa e vez ou outra acaba apelando para as luminárias LED de livros).
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